Elisabete Gonçalves
Amiga e testemunha da
38ª Companhia de Comandos
TEXTOS DA
ELISABETE PARA A 38ª COMPANHIA DE COMANDOS
Os maiores dias da minha vida
Ah, Deus meu....como era
terrível aquele calor abafado dos trópicos. Tudo, tudo, punha à
prova a nossa vontade. A Morte, que sempre nos rondava a cada
passo, tudo fazia para nos levar com ela.
Como nos embalava na sonolência dos solavancos da picada, como
nos dobrava a vontade com aquela sede de água limpa dos ribeiros
frescos da nossa terra, como nos dispersava a atenção nos
zumbidos infindos dos mosquitos que não nos deixavam dormir um
par de horas descansados, como nos amolecia o corpo com a febre
e desarranjo interior e, maldita, como nos oferecia os braços
com promessas de calma... quando sangrávamos no capim!
Naquela viagem para Mueda, quando o rebentamento de uma mina
estilhaçou o primeiro veículo da coluna, nos ensurdeceu e nos
fez saltar como molas para a defesa...soube que a mim, aos meus
irmãos que lutavam ao meu lado, nunca me levaria , traidora, num
momento de engano.
Eu viveria, para contar!
Naquele dia, e em tantos outros que se seguiram, em que pusemos
toda a nossa coragem, vontade e querer, lealdade e força,
juventude e vida ao serviço da nossa Pátria, ganhei o direito de
viver e venci a Morte...na ponta de um dilagrama!
((Foto: 3ª CCMDS,Gatos/ Moçambique, 1971)